Opinião Pessoal - Como tem sido as reuniões?

Hoje não publicarei uma dúvida, relatarei as minhas impressões sobre as reuniões do clube.

As reuniões tem sido na verdade um momento de descontração, um momento de dar um tempo no ritmo louco do dia-a-dia, e refletir(?) no caso a respeito de duvidas cotidianas sob um enfoque biomédico(?).

Normalmente pedimos um lanche rápido, uma pizza para comermos durante a discussão. Penso se não seria melhor parar uns 15 minutos para comer.

Finalmente respondemos uma dúvida a cada reunião por meio da análise de artigos buscados normalmente no pubmed. NÃO pretendemos ser um tópicos - faça você mesmo. A ênfase é na resposta da dúvida (não nos detalhes do artigo), logo a pesquisa e a apresentação têm papel fundamental, e são os grandes momentos de aprendizado. A reunião é também construtiva uma vez que propõe uma análise crítica dos dados. Tem surgidos alguns debates bem interessantes, mas normalmente por ainda estarmos engatinhando ou por falta de tempo empobrecemos o debate.

Em breve postarei explicando algumas atividades do grupo, como a busca de artigos, a apresentação, a reunião e etc.

A ingestão de colesterol aumenta a chance de doença coronariana?






















Recomendo que antes da leitura do texto, vocês entrem
neste link da Wikipedia e leiam pelo menos a parte de "Importância Clínica"

Tentando responder a essa pergunta, procurei no PUBMED: “‘dietary cholesterol" AND atherosclerosis AND "coronary disease”. Encontrei cerca de 1500 artigos, e para melhor selecioná-los adicionei alguns “limits” (em inglês, em humanos, publicado nos últimos 5 anos). A pesquisa mostrou 55 artigos, dos quais escolhi dois pelo resumo. Como eu verifiquei que recentemente ocorreu uma mudança de posicionamento a respeito do tema, um dos artigos escolhidos era um review.

A pergunta era simples: posso comer colesterol? A resposta era não. O conceito de que o colesterol dietético contribuía para aumento do LDL e das doenças coronarianas fez parte da política pública de saúde dos EUA por mais de 30 anos. Essa opinião se baseava em:

  1. Testes com animais que demonstravam que o aumento do consumo de colesterol induzia aterosclerose em algumas espécies.
  2. Estudos epidemiológicos demonstrando uma correlação entre colesterol dietético e doenças coronarianas.
  3. Observação clínica de que alimentação rica em colesterol aumentava o LDL.

No entanto, aos poucos foi-se verificando que estes estudos apresentavam alguns vieses. Por exemplo, os estudos com animais apontavam aumento de aterosclerose apenas para animais herbívoros. Ora, se o animal nunca ingeriu colesterol (ele está presente apenas em produtos de origem animal), obviamente seu organismo não conseguirá se ajustar a um aumento de oferta. Animais carnívoros e onívoros apresentavam mínima variação com aumento da ingestão.

Os estudos epidemiológicos e clínicos apresentavam um viés de confundimento. A maioria das dietas ricas em colesterol são também ricas em gordura saturada, e pobre em frutas e verduras. Quando se realiza uma análise multivariada, não se encontra significância estatística do consumo de colesterol em eventos coronarianos. É bom lembrar que essa correlação existe em relação a gordura saturada.

Um dos estudos aponta que uma dieta rica em colesterol é capaz de causar uma variação de 16 mg/dia no colesterol, enquanto o colesterol endógeno sintetizado no corpo corresponde a 1000 mg. Ou seja, a ingestão tem uma importância muito pequena nos índices séricos.

Por fim, o artigo fala a respeito dos ovos, alimentos ricos em colesterol , mas com pouca gordura saturada. Por muito tempo, esse alimento foi abominado por médicos e nutricionistas, devido ao suposto risco de aumento de eventos coronarianos. Estudos mais recentes mostram que na verdade, ele aumenta o HDL, e pode reduzir o LDL. Portanto, a ingestão de ovos não deve ser considerada um tabu.

Concluindo, voltemos a simples pergunta: posso comer colesterol? Gostaria de dizer que a resposta é sim, afinal, o colesterol em si tem uma pequena influência em eventos coronarianos. No entanto, é preciso lembrar que ele está intimamente correlacionado com dietas ricas em gorduras saturadas, gorduras trans, carbohidratos; e pobre em vegetais e frutas. Portanto, minha resposta é: sempre que for comer um ovinho, prepare sem manteiga, e coma uma maçã de sobremesa.

Referências:

McNamara DJ., Dietary cholesterol and atherosclerosis.Biochim Biophys Acta. 2000 Dec

Herron KL, Lofgren IE, Sharman M, Volek JS, Fernandez ML,High intake of cholesterol results in less atherogenic low-density lipoprotein particles in men and women independent of response classification. Metabolism. 2004 Jun;53(6):823-30.


Relator: Ibraim (81)



Mulheres que convivem muito mestruam juntas?

Desde a primeira publicação de Martha McClintock em 1971 sobre a sincronização da menstruação, o tema passou a ser foco de grande discussão no meio científico. Houve também repercussão entre leigos, entre os quais muitas mulheres acreditam que seus ciclos menstruais possam ser sincronizados.

A dúvida do grupo era se mulheres que convivem demais sincronizam seu ciclo menstrual. Para tentar solucioná-la pesquisei no pubmed synchron* menstrual cycle, que resultou em diversos artigos que pareciam responder satisfatoriamente à questão.

Entretanto, muitos autores avaliaram a possível existência desse fenômeno em estudos com colegas de quarto e os resultados foram bastante contraditórios. Por isso resolvi escolher o artigo Menstrual synchrony in a sample of working women, que media esse fenômeno em colegas de trabalho.

Nesse artigo, pares de mulheres que trabalhavam juntas por pelo menos um ano, em um escritório pequeno e que não tivessem contato com outras pessoas durante seu tempo de trabalho responderam questionários sobre o dia de início de sua menstruação e o nível de amizade entre elas.

Muito embora os autores cheguem à conclusão de que a sincronização está provada, há um grande viés no seu método. Para se considerar a existência de sincronização os autores utilizam o chamado índice de sincronia que mede a diferença entre o tempo entre os inícios das menstruações das duas mulheres e ¼ do tempo médio entre duas menstruações das duas mulheres, considerando qualquer valor negativo como sincronia. Por exemplo, em um ciclo médio de 28 dias, o valor esperado para a diferença entre os inícios das menstruações é de sete dias (¼ do ciclo) e se o valor encontrado for de cinco dias, é considerado que houve sincronia, mesmo que as menstruações das duas mulheres não coincidam em nenhum dia.Assim, eu considero que há uma tendência à sincronização menstrual em mulheres que convivem demais, até por causa de outros artigos encontrados em minha pesquisa, mas a sincronização real ainda não foi comprovada.

Referências:

Weller L, Weller A, Koresh-Kamin H, Ben-Shoshan R. Menstrual synchrony in a sample of working women.Psychoneuroendocrinology. 1999 May;24(4):449-59. PMID: 10341370 [PubMed - indexed for MEDLINE]

Stern K, McClintock MK. Regulation of ovulation by human pheromones.Nature. 1998 Mar 12;392(6672):177-9. PMID: 9515961 [PubMed - indexed for MEDLINE]

Relator: Bruno (83)

Mães corujas criam adultos alérgicos?


Na tentativa de responder a pergunta proposta, pesquisei "allergen exposure" no pubmed nos campos title/abstract. Na medida em que foram achados muitos resultados, fui incluindo progressivamente mais limites (idiomas: Inglês, Português, Espanhol e Francês, em crianças, ensaio clínico randomizado, ensaio clínico, meta-análise, revisão, publicados nos últimos 5 anos) até que encontrei 102 artigos dos quais escolhi 3 pelo resumo.

O objetivo da questão proposta seria avaliar se a prevenção da exposição a alérgenos, derivados principalmente de poeira doméstica e de animais, seria uma maneira de facilitar o aparecimento de reações alérgicas no futuro. Sabe-se que 50% da alergia são de origem genética, entretanto, só essa constatação não justifica o aumento da incidência de alergia em crianças. Numerosos estudos prospective têm constatado que a exposição à alérgenos na infância tem fator protetor para crianças sem predisposição genética, pois influencia o sistema imunológico em desenvolvimento a aumentar as respostas celular e diminuir a produção de anticorpos IgE [2].

Quando se trata de crianças em alto risco de desenvolver alergia vários fatores podem confundir a interpretação de estudos, já que pais muito alérgicos tendem a ter menos animais domésticos, por exemplo, assim a criança desenvolveria a alergia não por falta de exposição ao alérgeno, mas pela alta tendência genética a desenvolvê-la. Várias evidências têm provado que prevenir a exposição principalmente a alérgenos alimentares teria efeito protetor sobre o desenvolvimento de alergia nesse grupo [1], mas os resultados referentes a poeira e animais domésticos ainda são um pouco inconclusivos.

O estudo escolhido para responder essa questão foi um ensaio clínico randomizado, que possivelmente excluiu os vieses mais preocupantes relativos a estudos prospective e cross-sectional. 120 crianças com alto risco de desenvolver alergia foram divididas em dois grupos, sendo um profilático, sujeito a diversas medidas para evitar exposição a alérgenos no primeiro ano de vida, e outro controle. As crianças foram submetidas a testes nas idades de 1, 2, 4 e 8 anos para verificar o desenvolvimento de alergias. Os resultados do estudo permitem concluir que a prevenção da exposição a alérgenos no primeiro ano de vida foi positiva para a prevenção de aparecimento de asma alérgica (OR 0,18 CI 0,06-0,58), dermatite atópica alérgica (OR 0,04 CI 0,00-0,24) e rinite alérgica (OR 0,14 CI 0,04-0,51) [3].

Sendo assim, as evidências nos permitem concluir que evitar a exposição a alérgenos para crianças em alto risco de desenvolver alergia tem efeito benéfico. Ao contrário, para crianças que não se enquadrarem nessa categoria, expô-las a alérgenos na infância parece ter o efeito protetor.

Referências:

[1]HALKEN, Suzanne
Prevention of allergic disease in childhood: clinical and epidemiological aspects of primary and secondary allergy prevention, Pediatr Allergy Immunol 2004: 15 (Suppl. 16): 9–32

[2]OWNBYA, Dennis R., JOHNSON, Christine C
Does exposure to dogs and cats in the first year of life influence the development of allergic sensitization?
Current Opinion in Allergy and Clinical Immunology 2003, 3:517–522

[3]Arshad et al
Prevention of allergic disease during childhood by allergen avoidance: The Isle of Wight prevention study.
J Allergy Clin Immunol February 2007 volume 119, number 2

Uso de maconha pode levar a infertilidade masculina?

O primeiro ponto a ser esclarecido nesta questão é que no pubmed não há qualquer estudo conclusivo sobre essa associação (tal como mostra-se na primeira tentativa de busca). O artigo que escolhi como o que melhor responderia questão, por exemplo, é um ensaio in vitro que demonstra que o THC, principio ativo do maconha, pode afetar a fertilidade masculina[1]. Todas as suposições que são feitas sobre o assunto baseiam-se em experimentos sobre o funcionamento dos receptores de canabinoides.

Um receptor de canabinóides pode ser encontrado em algumas células humanas notadamente aquelas do sistema nervoso central e outras no sistema reprodutor, onde esse canal ativado por seu similar endógeno (a anandamida) tem importante função na regulação de funções reprodutivas[2].

Suspeita-se que óvulo secrete a anandamida como uma das estratégias para evitar a poliespermia (mais de um espermatozoide fecundar o óvulo)[2]. A partir dessas observações supôs-se que o uso de maconha poderia causar infertilidade masculina, esta hipótese é sustentada pelo estudo in vitro.

O estudo baseou-se numa preparação de sêmen a qual era colocado o THC em doses supostas como de uso medicinal e de uso recreativo. Observou-se queda da motilidade além da inibição da reação acrossômica, sugerindo que o uso recreativo de maconha possa ser fator de infertilidade masculina.

Os artigos que julguei relevante constatam que o uso lúdico da maconha pode ser fator de infertilidade masculina[1],[2],[3],[4],[5]. Muito embora esta relação pareça ser verdadeira é complicado tirar conclusões a partir de estudos laboratoriais, uma vez que estes jamais compreendem a complexidade da realidade in vivo. Ensaios clínicos (em modelos vivos), portanto, são necessários para a associação do uso de maconha com a infertilidade masculina ser confirmada. A importância desse conhecimento vai além do alarmismo contra o consumo desta droga, ela consiste na abertura de um campo fértil para o estudo e desenvolvimento de anticoncepcionais uma vez que a o THC foi também relacionado com causas de infertilidade feminina[5].

Busca no PubMed:
1) Palavras chaves: cannab* AND fertil*
Campos: Title/Abstract,
Limites: Humanos, Sexo Masculino, Clinical Trial ou Meta-Analysis ou Randomized Controlled Trial

Resultados: 0

2) Palavras chaves:cannab* AND fertil*
Campos: Title/Abstract,
Limites: Humanos, Sexo Masculino

Resultados: 9 , sendo 5 reviews

Artigos Relevantes
Effects of delta-9-tetrahydrocannabinol, the primary psychoactive cannabinoid in marijuana, on human sperm function in vitro[1]

A Tale of Two Cells: Endocannabinoid-Signaling Regulates Functions of Neurons and Sperm[2].
Jekyll and Hyde: Two Faces of Cannabinoid Signaling in Male and Female Fertility[3].
Cannabis, cannabinoids and reproduction[4]

Referência
[1]Whan LB, West MC, McClure N, Lewis SE; Effects of delta-9-tetrahydrocannabinol, the primary psychoactive cannabinoid in marijuana, on human sperm function in vitro.;Fertil Steril. 2006 Mar;85(3):653-60.

[2]Schuel H, Burkman LJ.; A tale of two cells: endocannabinoid-signaling regulates functions of neurons and sperm.; Biol Reprod. 2005 Dec;73(6):1078-86

[3]Wang H, Dey SK, Maccarrone M.; Jekyll and hyde: two faces of cannabinoid signaling in male and female fertility; Endocr Rev. 2006 Aug;27(5):427-48

[4]Park B, McPartland JM, Glass M.; Cannabis, cannabinoids and reproduction.; Prostaglandins Leukot Essent Fatty Acids. 2004 Feb;70(2):189-97.; Review.

[5]
Maccarrone M; Low fatty acid amide hydrolase and high anandamide levels are associated with failure to achieve an ongoing pregnancy after IVF and embryo transfer.; Mol Hum Reprod. 2002 Feb;8(2):188-95.

Leitura Complementar

A
lém dos artigos citados na bibliografia recomento a leitura do Endocannabinoids and Regulation of Female and Male Fertilit. Alguns artigos estão disponíveis em www.apoioclubedaevidencia.kit.net/canabinoides

O consumo de Coca-cola pode levar a osteoporose?

A Coca-Cola é uma das bebidas mais bem disseminadas mundialmente e seu consumo tem aumentado a cada ano.

A questão levantada pelo grupo foi se o consumo de Coca (ou outros refrigerenates a base de cola) pode levar a osteoporose. Para respondê-la, pesquisei artigos no Pubmed utilizando as palavras-chave cola beverages e osteoporosis. A busca resultou em vários artigos, mas muitos deles não estavam tão bem relacionados com a pergunta em questão.

Escolhi o artigo Evaluation of the Effect of Cola Drinks on Bone Mineral Density and Associated Factors, publicado em dezembro de 2006 na revista científica Basic & Clinical Pharmacology and Toxicology. Nesse estudo, que teve duração de 30 dias, 30 camundongos foram divididos em quatro grupos. Os grupos 1 e 2, formados or 10 machos e 10 fêmeas, foram munidos de ração, água e uma bebida à base de cola ad libitum, enquanto os grupos 3 e 4, cada um com cinco camundongos, receberam somente água e ração.

Apesar de analisados os dados para avaliar mudanças na estrutura da porção distal do esôfago (devido ao baixo pH da bebida – de 1.38 a 1.72), não houve detecção de esofagite. Outro aspecto negativo da pesquisa é o fato de que não foi encontrada diferença significativa nos níveis de cálcio sérico e de os autores terem relatado aumento da concentração de fósforo, sem que esse fato tenha sido apontado na tabela de referência.

Entretanto, acredito que o artigo tenha sido elucidativo por ter comprovado cientificamente que houve diminuição marcada tanto da densidade mineral óssea quanto da concentração mineral óssea do fêmur dos grupos-teste. Além disso, foi demonstrada congestão glomerular geral e sangramento intertubular, achados de lesão renal.


Relatora: Paula (83)

Própolis alivia dores de garganta?


O própolis é uma substância produzida pelas abelhas a partir de resinas extraídas da flora de determinada região. Sua função é tampar pequenos buracos na colméia e seu extrato tem diversas aplicações, desde o tratamento de aftas1 até o controle da proliferação de células tumorais2. Devido à sua origem muito diversa, a composição do própolis varia entre as diferentes regiões. Portanto, para que qualquer estudo feito com própolis seja válido é importante que a concentração de princípios ativos seja avaliada e padronizada. Por isso muitos estudos são feitos buscando estabelecer uma composição padrão para o extrato de própolis a ser usado em pesquisas ou comercializado.

O uso de própolis para o alívio de dores de garganta é corrente na população. Usei o Google scholar para buscar evidências a respeito da eficácia desse método. Digitei “própolis” e “Clinical Trial”. Surpreendentemente encontrei pouquíssimos artigos relevantes e esses poucos eram em outras línguas que não o inglês (Romeno, Russo...). Os artigos mais interessantes que achei sobre esse assunto eram de revistas de microbiologia que falavam das propriedades antimicrobianas do própolis3.

Após extensa pesquisa achei que a relação do própolis com o alivio das dores de garganta era muito pobre em estudos, por isso resolvi buscar algum estudo clinico interessante sobre outro dos vários efeitos benéficos do própolis. Escolhi um artigo sobre os efeitos do uso de própolis como suplemento alimentar no controle da asma leve a moderada.

O artigo publicado no Fundamental and Clinical Pharmacology4 descreve um estudo feito com 46 pacientes asmáticos. O artigo tinha como objetivo avaliar os efeitos do consumo diário de própolis, por 2 meses, tanto nas funções ventilatórias e na quantidade de ataques noturnos, quanto nos mediadores da inflamação e fatores imunológicos, visto que a asma é uma doença inflamatória crônica. Os pacientes foram divididos em 2 grupos, um recebia o própolis diariamente e outro recebia placebo. Os resultados mostraram uma melhora significativa nos parâmetros avaliados no grupo que consumia própolis. O número de ataques noturnos diminuiu de uma média de 2,5 para apenas 1 ataque por semana. Na avaliação das funções respiratórias a melhora variou de 19 a 41% dependendo do teste. Essas melhoras clínicas foram acompanhadas por alterações benéficas nos níveis séricos de fatores imunológicos e mediadores da inflamação, sendo possível assim estabelecer uma correlação entre os achados clínicos e as alterações no sistema imunitário.

As conclusões do artigo são grande relevância, pois são um indício do mecanismo de ação do própolis, podendo, portanto, ser importante para que novos estudos sejam feitos buscando entender de que forma se dá a ação do própolis no controle da asma e de outras patologias.

Referências
1 Samet et al. The effect of bee propolis on recurrent aphthous stomatitis: a pilot study.Clin Oral Investig. 2007 Jun;11(2):143-7. Epub 2007 Feb 7.

2 Li et al. Antiproliferation of human prostate cancer cells by ethanolic extracts of Brazilian propolis and its botanical origin. Int J Oncol. 2007 Sep;31(3):601-6.

3 Grange et al. Antibacterial properties of propolis (bee glue). J R Soc Med. 1990 Mar;83(3):159-60. Review.

4 Khayyal et al. A clinical pharmacological study of the potential beneficial effects of a propolis food product as an adjuvant in asthmatic patients. Fundam Clin Pharmacol. 2003 Feb;17(1):93-102.

Há benefícios no consumo de álcool?



Utilizei o Google Scholar para tentar encontrar artigos relevantes. Nessa triagem percebi que muitos dos artigos que tratavam sobre benefícios à saúde tratavam de benefícios para o coração, então a pesquisa ficou restrita a tal subtema. Com os termos “alcohol intake” e “heart” encontrei os dois principais artigos considerados.

Um artigo de 1999, publicado no BMJ, trata da diminuição dos riscos de doença coronária. É um extenso review de artigos publicados entre 1965 e 1998 e que conclui estar provado o efeito benéfico do álcool em aumentar significativamente as taxas de HDL do sangue, desde que consumido moderadamente – até duas doses para homens e em torno de uma dose para as mulheres.

O outro artigo, o qual mereceu maior atenção, foi publicado em 2006, também no BMJ, e trata dos diferentes padrões de consumo do álcool em relação à doença coronariana, levando em conta as diferenças entre os sexos e diversas variáveis (atividade física, fumo, consumo de vegetais, gordura saturada e peixe, e o nível de educação).

Tal artigo, um cohort study de população, envolveu em torno de 50 mil dinamarqueses, sem qualquer problema cardiovascular, justamente para que a incidência de doença coronariana fosse verificada frente às estatísticas oficiais do país. Em suma, o que o artigo conclui foi que, para mulheres, o importante para diminuir o risco de doença coronariana é a quantidade ingerida, mesmo que numa freqüência baixa. Para homens, a freqüência parece ser mais importante e a quantidade nem tanto. Ao contrário de outros artigos, este afirma que quanto maior a quantidade ingerida, menor o risco de doença coronariana.

Apesar de chamar atenção, o resultado deve ser visto com cautela. A pesquisa só levou em conta a diminuição de doença coronariana sem considerar os riscos da ingestão acima do moderado, como câncer ou doença hepática. Interpondo esses dois estudos e demais não citados creio que a ingestão moderada ainda é mais benéfica. A frase do Ministério da Saúde pode ser levada a sério.

Relator: Ariel (83)

Pílula anticoncepcional é um fator de risco para câncer de mama?


No Brasil, 20,7% das mulheres em idade reprodutiva utiliza como método contraceptivo a pílula anticoncepcional. Esse medicamento contém estrógeno, um conhecido mitógeno das células da mama, assim ele pode estar associado a ocorrência de câncer de mama com o uso prolongado.
Na tentativa de responder a essa pergunta, digitei "breast cancer" e "oral contraceptive" no Pubmed com filtros para humanos, mulheres, randomized controlled trial, controlled clinical trial, clinical trial e adultos. O objetivo de usar tantos filtros foi diminuir a quantidade de estudos encontrados para 110 artigos, dos quais uns 40 eram relevantes para responder a pergunta. Desses 40, escolhi dois pelo resumo.

O artigo da JAMA descreve um cohort study de 426 famílias de pacientes com câncer de mama entre 1944 e 1952 em Minnesota. O objetivo do artigo era avaliar se, dentre as pessoas com histórico familiar, o anticoncepcional aumenta o risco de desenvolver câncer de mama. Os dados coletados comprovaram que para aquelas pessoas que usaram pílula antes de 1975, o método realmente aumenta a chance de desenvolver câncer de mama (risco relativo de 3,3 comparado aos que não usaram pílula). Entretanto, para aqueles que passaram a tomar anticoncepcional após 1975 os dados foram inconclusivos pois não houveram casos suficientes de câncer de mama para que pudesse ser feita a associação. O ano de 1975 foi utilizado como marco pois houve redução da quantidade de hormônios na pílula nesse ano.

O artigo publicado na American Journal of Epidemiology acompanhou 3,540 casos de câncer de mama entre 1977 e 1992 em Boston, Nova Iorque e Filadélfia em um case-control study. O estudo conclui que houve relação entre o uso de anticoncepcional e a ocorrência de câncer de mama, como ilustra a tabela:

Am J Epidemiol Vol. 143 No.1, 1996.


Contudo, o grupo controle diferia significativamente do grupo caso na medida em que este tinha maior ocorrência de histórico familiar, uso de álcool e auto-exame periódico. Assim, ele não é satisfatório para estabelecer a ligação entre anticoncepcional e câncer de mama, visto que esses outros fatores podem ter confundido a investigação.

Como conclusão final, o clube admite que não há relação comprovada entre câncer de mama e anticoncepcional, pois ambos os estudos tiveram falhas importantes que não podem ser desconsideradas.
Referências
Rosemberg et al, Case-control study of use of contraceptive and breast cancer, Am J Epidemiol Vol. 143 No.1, 1996.

As orações praticadas por terceiros podem influenciar positivamente o curso clínico de pacientes coronários?

Breve introdução: A reza tem sido descrita como um dos métodos mais antigos de cura da humanidade e, ainda hoje, tem sido amplamente usada como terapia no combate e controle a diversas afecções. Principalmente com o avanço da Medicina Alternativa e Complementar que tem sido observado em resposta à Medicina tradicional mecanicista, orações e seus efeitos na saúde se tornaram importante objeto de análise em estudos científicos.

É consenso que a mente pode influenciar a resposta do corpo às condições de saúde e, portanto, orações praticadas pelo doente podem modelar o desenvolvimento da doença, bem como outras atitudes psicológicas. Entretanto, apesar da crença popular de que orações realizadas por terceiros teriam poder de cura, este ainda é um tema divergente e polêmico da Medicina atual.

Nosso objetivo era responder essa questão e, para tal, separamos dois artigos científicos de estudo clínico randomizado que se mostraram a favor da influência positiva da reza praticada por terceiros em afecções coronárias, apesar de haver referências científicas que mostrem o contrário.


Estratégia de busca: “intercessory prayer” e “remote intercessory prayer” no google acadêmico.


Artigo Apresentado:

Autor: Harris W., Gowda M., Kolb J. e cols.

Ano de publicação: 1999

País: Estados Unidos

990 pacientes admitidos na unidade de tratamento coronário do hospital MAHI, em Kansas City, EUA, foram dividos, aleatoriamente, em dois grupos: um receberia orações vindas de um grupos de oração e um não receberia orações desse grupo.

Os pacientes não sabiam em qual grupo estavam e tampouco sabiam que estavam participando desse estudo, e não havia qualquer tipo de contato entre o grupo de oração e o paciente a ser beneficiado. Então, usando uma escala elaborada por médicos do próprio hospital, era avaliado o curso clínico do paciente internado, levando em conta eventos cardiovasculares e relacionados, bem como procedimentos realizados durante a estada no hospital. O tempo médio de internação também foi medido nos dois grupos.

Não houve diferença significativa no número de ocorrências de cada procedimento ou evento cardiovasculares isoladamente nos dois grupos e não houve diferença significativa entre o tempo de internação hospitalar nos dois grupos. Porém, utilizando-se a escala que reúne todas as ocorrências de eventos ou procedimentos, o grupo que recebeu as orações obteve um escore significativamente menor que o outro grupo (6.35 +- 0.26 contra 7.13 +- 0.27, respectivamente, com P = 0.04).

Clinical Bottom Line: Portanto, de acordo com o artigo apresentado, o recebimento de orações praticadas por terceiros, não estando os pacientes cientes dessa prática, pode influenciar positivamente o curso de pacientes internados na ala de tratamento coronário do hospital. Os autores não elaboram sobre o mecanismo pelo qual isso aconteceria.

Comentários:

- A maneira de separar os pacientes nos dois grupos – considerando o número de cadastro dos mesmos no hospital e separando entre números pares e ímpares –, não é considerado exatamente como separação aleatória, pois pode não se dar completamente ao acaso.

- A escala utilizada no estudo para avaliar o curso clínico de cada paciente não foi validada cientificamente e não existe, atualmente, escala validada para tal fim.

- Há implicações éticas em realizar pesquisas científicas sem o consentimento e esclarecimento dos objetos a serem pesquisados, mesmo que acredite-se que as ações realizadas no estudo não comprometam o tratamento recebido na internação hospitalar.

- Os resultados obtidos não foram reproduzidos em outros artigos realizados a posteriori.

- É possível que os pacientes de ambos os grupos estivessem recebendo orações de seus familiares e amigos, independente de qual grupo ele pertença, de modo a “mascarar” os efeitos da reza praticada pelo grupo de orações.

Referência: Harris W., Gowda M., Kolb, J. et al. A Randomized, Controlled Trial of the Effects of Remote, Intercessory Prayer on Outcomes in Patients Admitted to the Coronary Care Unit. Arch Intern Med. 1999;159:2273-2278.

Outros artigos:

Byrd, RC. Positive Therapeutic effects of intercessory prayer in a coronary care unit population. South Med J. 1988; 81:826-829.

Benson H., Dusek JA. et al. Study of the Therapeutic Effects of Intercessory Prayer (STEP) in cardiac bypass patients: a multicenter randomized trial of uncertainty and certainty of receiving intercessory prayer. Am Heart J. 2006 Apr;151(4):934-42.

A exposição ao frio induz infecções de trato respiratório alto?

Relator: Ibraim
Data da reunião: 08 de agosto de 2007.
Questão: A exposição ao frio induz infecções de trato respiratório alto?

Breve introdução:

Existe a crença popular de que o frio está relacionado ao desenvolvimento de resfriados e infecções de garganta. Nos últimos 300 anos diversos autores reportaram que a exposição ao frio realmente está relacionada a infecções de trato respiratório alta. No entanto, estudos clínicos nos anos 50 envolvendo inoculações de vírus no nariz de voluntários, juntamente com exposição destes ao frio falharam confirmar a crença popular. Livros recentes de virologia ironizam essa teoria.

Ainda assim, essa crença está tão incrustada em diferentes sociedades que é difícil acreditar que não exista algo de real nela. Epidemiologicamente, durante o inverno aumenta-se drasticamente o número de resfriados. Além disso, esta é a principal causa de faltas em treinamentos de atletas profissinais de cross-country. Militares canadenses relatam um aumento do número e severidade de infecções de trato respiratório alto quando designados a trabalhar em estações árticas.

Apresentamos aqui portanto, 3 artigos sobre o tema, sendo o primeiro um pequeno estudo clinico randomizado favorecendo a crença popular. O segundo é um review sobre o tema (tendenciando a favor do efeito do frio), e o último, um estudo fisiológico demonstrando o efeito de exposição a baixas temperaturas sobre o sistema imune (indo contra a crença popular). Aproveitem.

Estratégia de busca: "cold exposure" "infection" com Limits para estudos em humanos no PUBMED.

Artigo apresentado:
Autor: Johnson, C. and Eccles, R.
Ano: 2005
País: Reino Unido
Grupo de pacientes: 180 estudantes da Universidade Cardiff.Noventa imergiram os pés em um recipiente com 9-10 litros de água a 10° C por 20 minutos. O grupo controle colocou os pés em um recipiente vazio por 20 minutos. Ambos os grupos foram questionados sobre sintomas de resfriado imediatamente antes e após o procedimento e em cada um dos 5 dias subsequentes.
Resultados: houve diferença significativa entre o grupo submetido ao frio (5.16 ±5.63) em relação ao controle (2.89 ±3.39) com p<0,013. style="font-weight: bold;">Clinical bottom line:
Apesar de não saber explicar o motivo, o autor conclui que exposição do pé ao frio aumenta o número de sintomas de resfriado.

Comentários:
O estudo apresenta alguns vieses:
  1. Acreditamos que o grupo controle deveria ter imergido os pés em água quente, já que queria-se verificar o papel da temperatura.
  2. Ele soma o score diário de resfriado (possivelmente contando 2 vezes a mesma pessoa), mostrando diferença estatística apenas nessa soma.
  3. O termo de voluntariado do estudo refere que é esperado um maior número de infecções com a exposição a água gelada, podendo induzir na população o desejo de ajudar o pesquisador
  4. O experimento parece ter sido realizado durante o inverno, tornando a exposição de 20 minutos em laboratório praticamente nula em relação a exposição real dos voluntários.


Referência:
Johnson, C. and Eccles, R. Acute cooling of the feet and the onset of common cold symptoms, Family Practice 2005; 22: 608-613


Outros artigos

Eccles, R. Acute cooling of the body surface and thecommon cold, Rhinology. 2002 Sep;40(3):109-14.

I. K. M. Brenner, et al. Immune changes in humans during cold exposure: effects of prior heating and exercise, Journal of Applied Physiology 1999; 87: 699-710

Tonsillectomia é eficaz para reduzir episódios de dor de garganta recorrentes?

Relator: Rafael Dusi
Data da reunião: 01 de agosto de 2007.
Questão: A tonsilectomia é eficaz em reduzir episódios de dor de garganta recorrentes em crianças?

Estratégia de busca: tonsillectomy no google acadêmico.

Artigo relevante:
Autor: Paradise,J.
Ano: 2002
País: Estados Unidos
Grupo de pacientes: 328 crianças com episódios recorrentes de dores de garganta moderadas. Tonsilectomia v adenotonsilectomia v controle E adenotonsilectomia v controle
Resultados: houve diferença significativa em ambos os grupos se comparados o subgrupo controle com os subgrupos submetidos a cirurgia (p<0,001).

Clinical bottom line:
Apesar da cirurgia ser eficaz em reduzir os episódios de dores de garganta recorrentes, ela não é recomendada pois reduz em média apenas 1 episódio de dor ao ano.

Comentários:
O estudo poderia ter explicitado melhor o que foi considerado um episódio de dor de garganta.

Referências:
Paradise, J. et al, Tonsillectomy and Adenotonsillectomy for recurrent throat infection in moderately affeted children, PEDIATRICS Vol. 110 No. 1 Julho 2002, pp. 7-15