
O fenômeno da hipnose surgiu (ou foi descoberto) no meio do século XVIII. Um dos iniciadores da técnica, Mesmer acreditava que o processo vinha de um magnetismo emanado pelo terapeuta. O primeiro estudo apontando a hipnose como técnica para interromper o tabagismo data de 1847. Desde então essa técnica já sofreu altos e baixos, e hoje é considerada por muitos como terreno de charlatões e curandeiros. Os últimos trabalhos interessantes sobre o assunto ocorreram no fim dos anos 80, e infelizmente não consegui obtê-las pela internet. Sendo assim, baseei a apresentação em um artigo de 1996 duplo-cego e randomizado que consistia na experimentação de uma fita motivacional escutada durante o processo de anestesia geral de pacientes que estavam sendo operados. A base teórica por trás do trabalho se baseava em um estado de torpor (no original, awareness) citado por alguns pacientes, que relatam lembrar-se de ouvir os médicos conversando, de ter acordado durante a cirurgia ou mesmo de sensação de dor. Segundo os autores, este estágio de sono/vigília é equiparável ao estágio hipnótico, ou seja, neste período os pacientes estariam mais sugestionáveis.
Para o estudo, foram escolhidos 363 pacientes que realizariam uma cirurgia eletiva ou semi-eletiva; que fossem fumantes diários e que desejassem parar de fumar. Os pacientes foram aleatorizados em dois grupos, sendo que em um deles, durante a anestesia geral, escutariam uma mensagem encorajando-os a parar de fumar; e os do segundo grupo receberiam um fone de ouvido, mas não escutarima qualquer mensagem. Os fones impediam a passagem de som para o ambiente impossibilitando que os cirurgiões, ou os pesquisadores soubessem a que grupo pertencia o paciente. Antes da intervenção, todos paciente deveriam apontar quão forte era seu desejo de fumar em uma escala representativa de 0 a 100. Após a cirurgia eles eram perguntados sobre lembranças do procedimento e eram solicitados a repetir o teste da escala. Após dois meses os pacientes eram telefonados e indagados se haviam conseguido parar de fumar, e assim novamente após seis meses da intervenção. Aqueles que afirmavam ter parado no prazo de seis meses eram convidados a realizar um teste de monóxido de carbono para verificar a abstinência. Os resultados encontrados são apontados na tabela abaixo, e não houve diferença significativa entre os dois grupos com relação à escala de desejo de parar de fumar; a abstinência após dois meses, nem após seis meses. Ou seja, este estudo não indicou qualquer benefício na utilização de fitas durante anestesias gerais com o objetivo de parar de fumar.

PS: Para os que ficaram frustrados pelo artigo não ser de hipnose, sugiro a leitura do segundo artigo que se trata de uma revisão sobre o uso de acupuntura e hipnose como tratamentos para o tabagismo.
Myles PS, Hendrata M, Layher Y, Williams NJ, Hall JL, Moloney JT, Powell J. Double-blind, randomized trial of cessation of smoking after audiotape suggestion during anaesthesia, Br J Anaesth. 1996 May;76(5):694-8
Villano LM, White AR., Alternative therapies for tobacco dependence., Med Clin North Am. 2004 Nov;88(6):1607-21.
Relator: Ibraim (81)