Existe base terapêutica na utilização do enema?

A terapia de lavagem intestinal é conhecida como hidrocolonterapia, sendo o enema a introdução de água no intestino, geralmente pelo ânus. Este tipo de terapia baseia-se na antiga teoria da autointoxicação, segundo a qual toxinas acumuladas no trato gastrointestinal são absorvidas pela mucosa, literalmente, envenenando o corpo. A hidrocolonterapia foi muito utilizada, principalmente no século XIX, todavia, na década de 30, a perseguição política aos terapeutas (nem sempre médicos) e a popularização dos laxantes aliados ao desconhecimento científico sobre o assunto, provocaram certo desprezo pelo assunto. Kit comercial

A pesquisa no pubmed com os termos hidrotherapy AND (colon OR colonic) e limites para Português, Inglês e Francês revela 7 resultados, todos relevantes. Destaca-se apenas um relato de caso de perfuração anal e gangrena com risco de vida. O artigo considerado mais adequado para responder a questão foi o que avaliou o perfil comercial da hidrocolonterapia no Reino Unido.

A pesquisa avaliou 38 hidrocolonterapeutas registrados na Association of Colonic Hidroterapists e 242 clientes desses, por meio de questionário. Os resultados da pesquisa indicam que a hidrocolonterapia é uma atividade comercial lucrativa, e que isto poderia ser um fator que explicasse a sua prática ainda hoje. Os clientes avaliados mostraram-se insatisfeitos com a medicina tradicional e consideram que a hidrocolonterapia tem sido capaz de resolver os problemas de saúde que os levaram a procurá-la.
Tabela do artigo comparando a satisfação dos clientes de hidrocolonterapia com a medicina tradicional.

A hidrocolonterapia tem se mostrado um procedimento seguro e, apesar da ciência não ter sido capaz de comprovar seu funcionamento, ela também não o foi de comprovar seu não-funcionamento. Dessa forma, ainda não há indícios que permitam descartar a hidrocolonterapia como uma alternativa ao manejo da constipação intestinal.

Bibliografia:
Colonic Irrigations: A Review of the Historical Controversy and the Potential for Adverse Effects, Richards DG, et cols. Não publicado, disponível em aqui.
Retrograde commercial colonic hydrotherapy,Taffinder J, et cols. Colorectal Disease, 2004. 6, 258–260

Uso de telefone celular está relacionado com risco de câncer?


A exposição a radiação ionizante é um dos mecanismos propostos para explicar o surgimento de cancer. Se esta assertiva é verdadeira, então o crescente uso de telefones celulares entre as pessoas poderia ser um fator preocupante, em termos de saúde pública. Caso o mecanismo responsável pela alteração celular, que desencadearia a formação de neoplasmas, seja a exposição direta a radiação, então, estudos que avaliem câncer de cerebros ou de meato acústico são de interessante análise para a resolução dessa questão.Para tanto foram escolhidos dois estudos caso-controle do mesmo autor (Stefan Lönn et cols.), partes de um estudo multicêntrico europeu (INTERPHONE), que analisaram a freqüencia de exposição a radiação ionizante do celular a médio e longo prazo e a ocorrência de câncer de cérebro e meato acústico.
O primeiro incluiu 3,7 milhões de pessoas entre 20-69 anos, sendo 899 casos. Pela análise da razão de chance, foi possível concluir que não houve correlação entre a ocorrência de câncer de cérebro e o uso frequente de telefone celular.
O segundo estudo, sobre cancer do meato acústico, apontou uma chance de 3,1x de ter câncer de meato acústico em usuários de telefone celular a mais de 10 anos. Vale a pena frizar que este foi o único estudo encontrado que permitiu essa associação pela estratégia de busca:

Termos: (cancer OR neoplasm OR tumor )and ("low frequency fields" OR "cell phone" OR "ELF FIELDS" OR "mobile phone") nos campos Title/Abstract com limites para artigos em Inglês, Francês ou Português.


O relatório de saúde pública da OMS apontou para numerosas incertezas nesse campo. A maioria dos estudos epidemiológicos apontam para uma forte correlação entre a exposição a radiação ionizante e diagnóstico de leucemia, principalmente em crianças. Contudo, ainda não há evidência experimental que suporte esse fato.

Referências
Lönn S et cols. Mobile Phone Use and the Risk of Acoustic Neuroma, Epidemiology 2004; 15(6)
Lönn S et cols. Long-Term Mobile Phone Use and Brain Tumor Risk. Am J Epidemiol 2005;161(6)


Como fazer citações científicas

Embora regras sejam feitas para serem descumpridas é sempre importante ter as regras "oficiais" em mãos. Use-as apenas para trabalhos que serão avaliados autoritariamente (p.e., por um professor) ou que tem a possibilidade de serem publicados.

Quando na informalidade citaçao deve conter a identificaçao o autor e o caminho completo para que o leitor possa acessar o trabalho citado.

Neste caso basta o link:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/bv.fcgi?rid=citmed.TOC&depth=2


O efeito placebo

Introdução
O placebo foi concebido como controle em ensaios clínicos randomizados, para imitar a intervenção em teste, porém sem efeito fisiológicos. (S. D. Dorn et al., 2007) Com o tempo foi observado que o placebo podia provocar respostas extremamente altas em alguns testes. Por exemplo mais de 80% de resposta em testes de tratamento da síndrome do colo irritado e outros efeitos satisfatórios no tratamento da cefaléia e outras doenças (S. Klosterhalfen, P. Enck., 2006). Isso causou interesse por levantar hipóteses de erros metodológicos no desenho do placebo. Além disso o efeito placebo, bem compreendido abre campo para desenvolvimento de intervenções de baixo custo e pouco efeito colateral.

Como funciona o placebo
Uma das explicações para o efeito placebo baseia-se no condicionamento pavloviano, isso principalmente em respostas subconscientes. Assim como o cachorro de Pavlov salivava ao ouvir a campainha é possível condiocionar uma pessoa, por exemplo, a liberar um hormônio. Para provar isso níveis circulantes de GH e cortisol foram condicionados por injeções de sumatrypan. Em seguida sugestões de aumento ou diminuição desses hormônios não funcionaram, porem injeções de cloreto de sódio foram capazes de mimetizar o efeito do sumatrypan.
Outro mecanismo seria a criação de expectativas, que agiria também em processos conscientes. A sugestão de que os tremores em pacientes com parkson diminuiriam após uma cerebral do controle motor. Os pacientes que não receberam a estimulação tiveram os tremores diminuídos na mesma intensidade que aqueles que receberam a estimulação.Outro teste foi feito com voluntários sadios foram condicionados com injeções de opióides por dois dias. No terceiro dia eles experimentavam hipoalgesia a dor experimental após injeção contendo apenas NaCl (S. Klosterhalfen, P. Enck., 2006).
Os estudos a respeito dos mecanismos cerebrais do placebo, embora tenham sido uma das primeiras aplicações das técnicas de imagem cerebral, ainda são muito modestos e apenas mostram uma ativação extra do córtex pré-frontal. Esses achados sugerem, no caso da manipulação de sensações, que a ação acontece alterando a percepção mais que alterando a sensibilidade.

Terapias alternativas são capazes de aumentar o efeito placebo?
Um revisão sistemática do efeito de terapias alternativas sobre o efeito placebo no tratamento da síndrome do colo irritado foi publicada em 2007. S. Klosterhalfen e P. Enck concluíram o tipo de terapia não interfere no efeito placebo. No entanto, dentre os estudos selecionados, só restaram terapias com remédios alternativos (plantas medicinais, probióticos e etc). A revisão, portanto, não tocou o cerne da questão, que consiste em terapias com forte apelo psicológico como homeopatia e tratamentos holísticos. Os autores sugerem ainda que outros fatores como a duração do tratamento e maior número de visitas teriam efeito sobre o sucesso do placebo.

Conclusão
O placebo tem apresentado altíssimo nível de funcionamento em publicações respeitadas. Seu efeito, entretanto, pode ser muito maior. Uma vez que as revisões são feitas muitas vezes com testes cujo foco é a intervenção e não o placebo. Esses trabalhos são muito susceptíveis ao viés de publicação (estudos cujo grupo caso tenham tido mais efeito que o placebo tem mais chance de serem publicadas).
O placebo deveria ser, portanto, um grande foco de interesse da medicina. O seu entendimento propicia intervenções mais seguras e de baixo custo.
A partir da melhor compreensão desse efeito é possível depositar maior respeito em terapias alternativas, e desenvolver o questionamento se a medicina não deveria ser um pouco mais a arte do placebo.