Colchões antialérgicos melhoram a qualidade de vida do asmático?

A resposta é não, segundo estudo publicado em 2003 no New England Journal of Medicine.
(Control of Exposure to Mite Allergen and Allergen-Impermeable Bed Covers for Adults with Asthma, Woodcook et col. Volume 349(3), 17 July 2003, pp 225-236)

O estudo duplo-cego aleatorizado avaliou o efeito da colcha impermeável antialérgica em 1155 adultos asmáticos em dois aspectos: se a intervenção seria capaz de alterar a capacidade vital e de reduzir o consumo de corticóides por estes pacientes. Para tanto, metade dos pacientes recebeu a colcha antialérgico (intervenção) e a outra recebeu uma colcha não-impermeável (controle).

Os resultados do estudo falham ao indicar quaisquer diferenças entre os grupos intervenção e controle. Todavia, se analisarmos o grupo total de pacientes, é possível observar melhorias nos aspectos testados, sugerindo um efeito positivo do uso da colcha (independente de ser impermeável ou não) no tratamento da asma. Seria isso o efeito placebo?

Hipnose é um bom tratamento para tabagismo?




O fenômeno da hipnose surgiu (ou foi descoberto) no meio do século XVIII. Um dos iniciadores da técnica, Mesmer acreditava que o processo vinha de um magnetismo emanado pelo terapeuta. O primeiro estudo apontando a hipnose como técnica para interromper o tabagismo data de 1847. Desde então essa técnica já sofreu altos e baixos, e hoje é considerada por muitos como terreno de charlatões e curandeiros. Os últimos trabalhos interessantes sobre o assunto ocorreram no fim dos anos 80, e infelizmente não consegui obtê-las pela internet. Sendo assim, baseei a apresentação em um artigo de 1996 duplo-cego e randomizado que consistia na experimentação de uma fita motivacional escutada durante o processo de anestesia geral de pacientes que estavam sendo operados. A base teórica por trás do trabalho se baseava em um estado de torpor (no original, awareness) citado por alguns pacientes, que relatam lembrar-se de ouvir os médicos conversando, de ter acordado durante a cirurgia ou mesmo de sensação de dor. Segundo os autores, este estágio de sono/vigília é equiparável ao estágio hipnótico, ou seja, neste período os pacientes estariam mais sugestionáveis.

Para o estudo, foram escolhidos 363 pacientes que realizariam uma cirurgia eletiva ou semi-eletiva; que fossem fumantes diários e que desejassem parar de fumar. Os pacientes foram aleatorizados em dois grupos, sendo que em um deles, durante a anestesia geral, escutariam uma mensagem encorajando-os a parar de fumar; e os do segundo grupo receberiam um fone de ouvido, mas não escutarima qualquer mensagem. Os fones impediam a passagem de som para o ambiente impossibilitando que os cirurgiões, ou os pesquisadores soubessem a que grupo pertencia o paciente. Antes da intervenção, todos paciente deveriam apontar quão forte era seu desejo de fumar em uma escala representativa de 0 a 100. Após a cirurgia eles eram perguntados sobre lembranças do procedimento e eram solicitados a repetir o teste da escala. Após dois meses os pacientes eram telefonados e indagados se haviam conseguido parar de fumar, e assim novamente após seis meses da intervenção. Aqueles que afirmavam ter parado no prazo de seis meses eram convidados a realizar um teste de monóxido de carbono para verificar a abstinência. Os resultados encontrados são apontados na tabela abaixo, e não houve diferença significativa entre os dois grupos com relação à escala de desejo de parar de fumar; a abstinência após dois meses, nem após seis meses. Ou seja, este estudo não indicou qualquer benefício na utilização de fitas durante anestesias gerais com o objetivo de parar de fumar.


PS: Para os que ficaram frustrados pelo artigo não ser de hipnose, sugiro a leitura do segundo artigo que se trata de uma revisão sobre o uso de acupuntura e hipnose como tratamentos para o tabagismo.

Myles PS, Hendrata M, Layher Y, Williams NJ, Hall JL, Moloney JT, Powell J. Double-blind, randomized trial of cessation of smoking after audiotape suggestion during anaesthesia, Br J Anaesth. 1996 May;76(5):694-8

Villano LM, White AR., Alternative therapies for tobacco dependence., Med Clin North Am. 2004 Nov;88(6):1607-21.


Relator: Ibraim (81)



Adoçantes engordam?

Recentemente a mídia noticiou que o consumo de adoçantes artificiais com baixo valor energético causava ganho de peso maior do que o de açúcar. Assim, o objetivo da questão proposta é avaliar se este fenômeno realmente ocorre.

Só nos EUA o peso médio da população cresceu 10% nos últimos 10 anos e o índice de pessoas obesas cresceu entre 15 e 30%. Esses dados preocupantes motivam uma série de estudos que buscam as origens dessa epidemia, muitos dos quais na genética da população. Entretanto, é mais provável que as causas se encontrem em fatores ambientais.

Um dos fatores diretamente relacionados à epidemia de obesidade é a introdução e consumo excessivo de adoçantes artificiais pela população. Muitos argumentam que o uso dos adoçantes é conseqüência da busca por uma alimentação mais saudável frente aos problemas com a obesidade. Contudo, recentemente muitos artigos têm mostrado que os adoçantes podem ser parte da causa do ganho de peso pela população e não da luta contra esse mal.

O artigo escolhido para responder à questão foi um estudo com ratos que analisava a possibilidade dos adoçantes causarem uma desregulação da ingestão calórica através de condicionamento reflexo. Foram realizados três experimentos. No primeiro os ratos eram divididos em três grupos que recebiam iogurte com açúcar, com adoçante ou com açúcar (mas com correção calórica) e verificou-se o aumento de peso, adiposidade e a ingestão calórica. No segundo os ratos eram divididos em dois grupos e eram treinados por 14 dias tomando iogurte com adoçante ou açúcar e depois verificou-se a capacidade de compensação calórica (reduzir a ingestão após uma refeição doce e calórica). No terceiro experimento os ratos foram treinados como no segundo, mas após a refeição doce e calórica verificou-se o aumento de temperatura e a atividade.

Os resultados mostram que os ratos que recebem adoçantes engordam mais e tem maior adiposidade, mesmo não alimentando com mais calorias. Além disso esses ratos perdem a capacidade de compensação calórica e têm uma resposta termogênica menor, o que pode explicar o ganho de peso e adiposidade.

Assim, as evidências permitem concluir que os adoçantes são capazes de causar um condicionamento pavloviano levando a aumento da adiposidade e ganho de peso em ratos. Esses dados podem ser extrapolados para seres humanos, mas com ressalvas, uma vez que este tipo de condicionamento é muito maior nos animais que nos seres humanos.

Texto de Bruno Luitgards (83)