Anti-inflamatórios aliviam a dor?

"Dor nas costas" é a segunda maior queixa que chega aos consultórios médicos nos Estados Unidos. Dentre os medicamentos prescritos, destacam-se os anti-inflamatórios não-hormonais, relaxantes musculares e analgésicos opióides. Fora dos consultórios, os anti-inflamatórios são as drogas mais consumidas no mundo, com sérios efeitos decorrentes do seu uso indiscriminado. Dentre eles, destacam-se como sendo a segunda maior causa de úlcera gástrica (perdem apenas para o Helicobacter pylori).
Apesar de famosos para o alívio da dor, existem poucas evidências que sustentem seu uso, ainda mais na escala em que ocorre. Digitando no PubMed os termos "Anti-Inflammatory Agents, Non-Steroidal"[Mesh] AND "Pain"[Mesh] nos campos título/resumo com limites para meta-análises com texto completo disponível em inglês, francês, espanhol ou português, encontramos 23 referências. A primeira, publicada nos Annals of Internal Medicine, já é capaz de responder a nossa pergunta.
A meta-análise em questão avaliou diversas intervenções medicamentosas para alívio da dor lombar aguda e crônica. No que diz respeito aos anti-inflamatórios não hormonais, eles são superiores a placebo nos desfechos "melhora global" (RR 1,42 CI 1,10-1,42) e "não precisar de analgesia adicional" (RR 1,29 CI 1,05-1,57) para dor lombar aguda. Em lombalgia crônica, apenas o ibuprofeno mostrou-se eficaz. Já para lombociatalgia, nenhum anti-inflamatório foi superior ao placebo. Além disso, nenhum anti-inflamatório foi superior a outros, semelhantes e eles não foram melhores que analgésicos opióides, relaxantes musculares ou terapia não medicamentosa (manipulação da coluna, terapia física ou descanso).
Este estudo é um banho de água fria nos fãs do "tomou doril, a dor sumiu". Mais do que isto, ele alerta para a inconsistência da prescrição exagerada de anti-inflamatórios, baseada muito mais no apelo comercial do que em benefícios clínicos.

Referências:
CHOU, R and HUFFMANRoger Chou, MD, and Laurie Hoyt Huffman, MS. Medications for Acute and Chronic Low Back Pain: A Review of the Evidence for an American Pain Society/American College of Physicians Clinical Practice Guideline. Ann Intern Med. 2007;147:505-514.

Devemos parar de comer sal?

Incluído na lista dos três pós brancos mortais (açúcar, farinha e sal), o sal tornou-se inimigo público número 1 dos cardiologistas. As Diretrizes Brasileiras para Tratamento da Hipertensão Arterial recomenda que o consumo de sal diário não ultrapasse 1,5g por dia, em consonância com as recomendações da American Heart Association (AHM).


Em um artigo publicado na Hypertension de fevereiro de 2006, a AHM recomenda quatro intervenções principais para o tratamento e prevenção da hipertensão arterial: perda de peso, diminuir ingesta de sal e álcool, aumentar a ingesta de potássio e seguir a dieta DASH (rica em frutas, vegetais e produtos lácteos sem gordura e pobre em gorduras e colesterol).
Apesar de muitos estudos que apontam redução significativa da pressão arterial com diminuição do consumo de sódio, muitas vezes essa redução é irrisória. A metaanálise de Jurgens et al. revelou que para adultos saudáveis, a redução de ingesta de sódio diminuia em média 1,27 mmHg na pressão arterial sistólica e 0,54 mmHg na pressão arterial diastólica. Em hipertensos, a diferença era 4,18 mmHg na pressão arterial sistólica e 1,98 mmHg na pressão arterial diastólica. O próprio autor considerou o achado irrelevante. Duas outras metaanálises encontraram resultados semelhantes em relação a magnitude de diminuição da pressão arterial, com um achado extra: pacientes hipertensos que consumiam menos sal estavam mais aptos a interromper a medicação.
Para a AHM, a resposta ao sal é muito heterogênea em populações. Algumas pessoas são mais sensíveis ao sódio que outras (refletindo talvez, uma doença renal subclínica), de forma que, como não é possível identificar essas pessoas, a recomendação populacional seria reduzir o consumo de sal para 1,5g ao dia (um americano consome em média 3,5g/dia). Um dos estudos que suportam suas recomendações é o "Effects on blood pressure of reduced dietary sodium and the dietary approache to stop hypertension" publicado na New England de janeiro de 2001.
Esse estudo avaliou 412 adultos com pressão arterial sistólica entre 120 e 159 e pressão arterial diastólica entre 80 e 95 divididos em 2 grandes grupos: dieta habitual americana ou dieta DASH. Dentro dos grandes grupos, os participantes foram divididos em 3 subgrupos: consumo de sódio de 150 mmol/dia (consumo normal de um americano), de 100 mmol/dia (limite proposto) e de 50 mmol/dia. Os achados mais importantes podem ser visualizados no gráfico a seguir:

Pelo gráfico, constatamos que a redução na pressão arterial foi irrisória (de acordo com os dados de outras metaanálises) quando comparados os grupos com ingesta de 150 mmol e 100 mmol por dia. No entando, a mudança para a dieta DASH trouxe resultados mais importantes, como uma redução de 5 mmHg na pressão arterial sistólica. A AHM preconiza que uma redução na pressão arterial de 5 mmHg reduz em 7% a mortalidade por causas totais, de forma que esse resultado apresentado tem relevância clínica.
Cerca de 75% do sódio que consumimos é oriundo de alimentos industrializados. Um double cheeseburguer, batatas fritas pequena e coca cola pequena do McDonalds contém 3,3g de sódio (http://www.mcdonaldsmenu.info/). Além disso, contém 35g de açúcar e 12g de gordura saturada. Seria o sódio o grande problema?