Mães corujas criam adultos alérgicos?


Na tentativa de responder a pergunta proposta, pesquisei "allergen exposure" no pubmed nos campos title/abstract. Na medida em que foram achados muitos resultados, fui incluindo progressivamente mais limites (idiomas: Inglês, Português, Espanhol e Francês, em crianças, ensaio clínico randomizado, ensaio clínico, meta-análise, revisão, publicados nos últimos 5 anos) até que encontrei 102 artigos dos quais escolhi 3 pelo resumo.

O objetivo da questão proposta seria avaliar se a prevenção da exposição a alérgenos, derivados principalmente de poeira doméstica e de animais, seria uma maneira de facilitar o aparecimento de reações alérgicas no futuro. Sabe-se que 50% da alergia são de origem genética, entretanto, só essa constatação não justifica o aumento da incidência de alergia em crianças. Numerosos estudos prospective têm constatado que a exposição à alérgenos na infância tem fator protetor para crianças sem predisposição genética, pois influencia o sistema imunológico em desenvolvimento a aumentar as respostas celular e diminuir a produção de anticorpos IgE [2].

Quando se trata de crianças em alto risco de desenvolver alergia vários fatores podem confundir a interpretação de estudos, já que pais muito alérgicos tendem a ter menos animais domésticos, por exemplo, assim a criança desenvolveria a alergia não por falta de exposição ao alérgeno, mas pela alta tendência genética a desenvolvê-la. Várias evidências têm provado que prevenir a exposição principalmente a alérgenos alimentares teria efeito protetor sobre o desenvolvimento de alergia nesse grupo [1], mas os resultados referentes a poeira e animais domésticos ainda são um pouco inconclusivos.

O estudo escolhido para responder essa questão foi um ensaio clínico randomizado, que possivelmente excluiu os vieses mais preocupantes relativos a estudos prospective e cross-sectional. 120 crianças com alto risco de desenvolver alergia foram divididas em dois grupos, sendo um profilático, sujeito a diversas medidas para evitar exposição a alérgenos no primeiro ano de vida, e outro controle. As crianças foram submetidas a testes nas idades de 1, 2, 4 e 8 anos para verificar o desenvolvimento de alergias. Os resultados do estudo permitem concluir que a prevenção da exposição a alérgenos no primeiro ano de vida foi positiva para a prevenção de aparecimento de asma alérgica (OR 0,18 CI 0,06-0,58), dermatite atópica alérgica (OR 0,04 CI 0,00-0,24) e rinite alérgica (OR 0,14 CI 0,04-0,51) [3].

Sendo assim, as evidências nos permitem concluir que evitar a exposição a alérgenos para crianças em alto risco de desenvolver alergia tem efeito benéfico. Ao contrário, para crianças que não se enquadrarem nessa categoria, expô-las a alérgenos na infância parece ter o efeito protetor.

Referências:

[1]HALKEN, Suzanne
Prevention of allergic disease in childhood: clinical and epidemiological aspects of primary and secondary allergy prevention, Pediatr Allergy Immunol 2004: 15 (Suppl. 16): 9–32

[2]OWNBYA, Dennis R., JOHNSON, Christine C
Does exposure to dogs and cats in the first year of life influence the development of allergic sensitization?
Current Opinion in Allergy and Clinical Immunology 2003, 3:517–522

[3]Arshad et al
Prevention of allergic disease during childhood by allergen avoidance: The Isle of Wight prevention study.
J Allergy Clin Immunol February 2007 volume 119, number 2

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