A exposição ao frio induz infecções de trato respiratório alto?

Relator: Ibraim
Data da reunião: 08 de agosto de 2007.
Questão: A exposição ao frio induz infecções de trato respiratório alto?

Breve introdução:

Existe a crença popular de que o frio está relacionado ao desenvolvimento de resfriados e infecções de garganta. Nos últimos 300 anos diversos autores reportaram que a exposição ao frio realmente está relacionada a infecções de trato respiratório alta. No entanto, estudos clínicos nos anos 50 envolvendo inoculações de vírus no nariz de voluntários, juntamente com exposição destes ao frio falharam confirmar a crença popular. Livros recentes de virologia ironizam essa teoria.

Ainda assim, essa crença está tão incrustada em diferentes sociedades que é difícil acreditar que não exista algo de real nela. Epidemiologicamente, durante o inverno aumenta-se drasticamente o número de resfriados. Além disso, esta é a principal causa de faltas em treinamentos de atletas profissinais de cross-country. Militares canadenses relatam um aumento do número e severidade de infecções de trato respiratório alto quando designados a trabalhar em estações árticas.

Apresentamos aqui portanto, 3 artigos sobre o tema, sendo o primeiro um pequeno estudo clinico randomizado favorecendo a crença popular. O segundo é um review sobre o tema (tendenciando a favor do efeito do frio), e o último, um estudo fisiológico demonstrando o efeito de exposição a baixas temperaturas sobre o sistema imune (indo contra a crença popular). Aproveitem.

Estratégia de busca: "cold exposure" "infection" com Limits para estudos em humanos no PUBMED.

Artigo apresentado:
Autor: Johnson, C. and Eccles, R.
Ano: 2005
País: Reino Unido
Grupo de pacientes: 180 estudantes da Universidade Cardiff.Noventa imergiram os pés em um recipiente com 9-10 litros de água a 10° C por 20 minutos. O grupo controle colocou os pés em um recipiente vazio por 20 minutos. Ambos os grupos foram questionados sobre sintomas de resfriado imediatamente antes e após o procedimento e em cada um dos 5 dias subsequentes.
Resultados: houve diferença significativa entre o grupo submetido ao frio (5.16 ±5.63) em relação ao controle (2.89 ±3.39) com p<0,013. style="font-weight: bold;">Clinical bottom line:
Apesar de não saber explicar o motivo, o autor conclui que exposição do pé ao frio aumenta o número de sintomas de resfriado.

Comentários:
O estudo apresenta alguns vieses:
  1. Acreditamos que o grupo controle deveria ter imergido os pés em água quente, já que queria-se verificar o papel da temperatura.
  2. Ele soma o score diário de resfriado (possivelmente contando 2 vezes a mesma pessoa), mostrando diferença estatística apenas nessa soma.
  3. O termo de voluntariado do estudo refere que é esperado um maior número de infecções com a exposição a água gelada, podendo induzir na população o desejo de ajudar o pesquisador
  4. O experimento parece ter sido realizado durante o inverno, tornando a exposição de 20 minutos em laboratório praticamente nula em relação a exposição real dos voluntários.


Referência:
Johnson, C. and Eccles, R. Acute cooling of the feet and the onset of common cold symptoms, Family Practice 2005; 22: 608-613


Outros artigos

Eccles, R. Acute cooling of the body surface and thecommon cold, Rhinology. 2002 Sep;40(3):109-14.

I. K. M. Brenner, et al. Immune changes in humans during cold exposure: effects of prior heating and exercise, Journal of Applied Physiology 1999; 87: 699-710

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