Crianças podem ser vegan?

Alimentação vegan é polêmica por definição. A notícia da morte de uma criança vegan, por desnutrição, na Inglaterra, suscitou a dúvida de quão adequada seria essa dieta para crianças. Comumente, dietas vegetarianas são menos calóricas que dietas tradicionais onívoras. Esta restrição calórica é vantajosa para quem quer perder peso, contudo, poderia causar estragos no crescimento e desenvolvimento de uma criança.

Foram descritos casos na literatura de deficiência neurológica grave em uma criança de 14 meses, amamentada por mãe vegan. A causa apontada foi a carência de vitamina B12 (na dieta da mãe). A suplementação vitamínica por 10 semanas foi capaz de regredir todas as anormalidades observadas ao EEG, todavia, a cognição e a linguagem da criança ainda estavam comprometidos à idade de dois anos.

Por outro lado, um estudo de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de crianças vegan inglesas revelou que, apesar de elas geralmente se encontrarem abaixo do percentil 50 das curvas de desenvolvimento padrão, elas estavam dentro do canal, tanto para peso quanto para altura.
Clique para ver em tamanho maior o gráfico altura X idade de meninos vegan, quando comparados ao padrão inglês.

O estudo conclui que a alimentação vegan é capaz de favorecer o crescimento e desenvolvimento normal de uma criança, quando adequadamente balanceada para possíveis deficiências de B12 e Cálcio. As crianças vegan se encontrariam abaixo do percentil 50, segundo o autor, devido a superestimação da curva, feita a partir de média de crescimento infantil (que leva em conta, principalmente, crianças onívoras).

Como a nossa dieta habitual é muito pobre, geralmente as dietas vegetarianas são mais ricas em vitaminas, por serem mais variadas. Key et al. relatam que os vegetarianos até morrem menos por doenças cardiovasculares. Com as devidas cautelas (principalmente em relação a suplementação de vitamina b12) é possível a alimentação vegetariana para crianças (e para adultos também). Vide o site http://www.vegankids.org.

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Para responder essa pergunta foi feita a busca na Medline nos termos MeSH vegetarianism, com limites para estudos em crianças.

Referências:
Schenck et al. Persistence of neurological damage induced by dietary vitamin B12 deficiency in infancy. Archives of Disease in Childhood 1997;77:137–139
Sanders. Growth and development of british vegan children. Am J Clin Nutr 1988;48:822-5
Key et al. Mortality in vegetarians and no-vegetarians. Public Health Nutrition: l ( I ), 33-4

2 comentários:

  1. É preciso ressaltar, conforme o próprio post, que a alimentação vegan para crianças só é possível de forma saudável se suplementados os nutrientes deficientes (B12 e cálcio), provavelmente o mesmo deve ser aplicado a gestantes e lactantes e, quem sabe, até mesmo a adultos, que podem desenvolver anemia megaloblástica após longo prazo (>10 anos) de alimentação deficiente em vitamina B12.
    Como pediatra, considero que se um determinado tipo de alimentação necessita de suplementação constante de nutrientes sob forma de medicamentos talvez este tipo de alimentação não possa ser considerado "saudável", especialmente para crianças. Ou seja, é POSSÍVEL alimentar-se desta forma e, com as adaptações necessárias, viver bem, mas não necessariamente seria o mais conveniente para a saúde. É preciso lembrar que não são apenas o peso e a altura que medem a riqueza nutricional de um tipo de alimentação. Deficiências nutricionais podem causar, a longo prazo, até mesmo déficit intelectual.
    Portanto, creio que a alimentação vegan, embora possível, talvez não seja a mais recomendada para uma criança em desenvolvimento, principalmente nos primeiros 2 anos de vida e na adolescência (fases de maior crescimento). É claro que ninguém deve considerar como ideal a dieta onívora comumente vista nas mesas de hoje, rica em frituras, gorduras e pobre em fibras. O ideal para a boa alimentação infantil é o equilíbrio. Afinal, uma dieta onívora também pode conter grande variedade de vegetais e pode apresentar níveis de gordura considerado saudáveis para o coração.

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  2. marinã,
    além da dieta da criança, há de se pensar sobre a dieta da mãe também.
    a primeira referência relata um caso de uma criança vegan que teve déficit neurológico, mas no caso, seus pais também eram vegans e tinha uma alimentação muito deficiente. =)
    que outros paramêtros poderiam ser usados para medir a adequabilidade de uma dieta vegetariana para o crescimento e desenvolvimento de uma criança?

    valeu pela colaboração!!

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