As orações praticadas por terceiros podem influenciar positivamente o curso clínico de pacientes coronários?

Breve introdução: A reza tem sido descrita como um dos métodos mais antigos de cura da humanidade e, ainda hoje, tem sido amplamente usada como terapia no combate e controle a diversas afecções. Principalmente com o avanço da Medicina Alternativa e Complementar que tem sido observado em resposta à Medicina tradicional mecanicista, orações e seus efeitos na saúde se tornaram importante objeto de análise em estudos científicos.

É consenso que a mente pode influenciar a resposta do corpo às condições de saúde e, portanto, orações praticadas pelo doente podem modelar o desenvolvimento da doença, bem como outras atitudes psicológicas. Entretanto, apesar da crença popular de que orações realizadas por terceiros teriam poder de cura, este ainda é um tema divergente e polêmico da Medicina atual.

Nosso objetivo era responder essa questão e, para tal, separamos dois artigos científicos de estudo clínico randomizado que se mostraram a favor da influência positiva da reza praticada por terceiros em afecções coronárias, apesar de haver referências científicas que mostrem o contrário.


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Artigo Apresentado:

Autor: Harris W., Gowda M., Kolb J. e cols.

Ano de publicação: 1999

País: Estados Unidos

990 pacientes admitidos na unidade de tratamento coronário do hospital MAHI, em Kansas City, EUA, foram dividos, aleatoriamente, em dois grupos: um receberia orações vindas de um grupos de oração e um não receberia orações desse grupo.

Os pacientes não sabiam em qual grupo estavam e tampouco sabiam que estavam participando desse estudo, e não havia qualquer tipo de contato entre o grupo de oração e o paciente a ser beneficiado. Então, usando uma escala elaborada por médicos do próprio hospital, era avaliado o curso clínico do paciente internado, levando em conta eventos cardiovasculares e relacionados, bem como procedimentos realizados durante a estada no hospital. O tempo médio de internação também foi medido nos dois grupos.

Não houve diferença significativa no número de ocorrências de cada procedimento ou evento cardiovasculares isoladamente nos dois grupos e não houve diferença significativa entre o tempo de internação hospitalar nos dois grupos. Porém, utilizando-se a escala que reúne todas as ocorrências de eventos ou procedimentos, o grupo que recebeu as orações obteve um escore significativamente menor que o outro grupo (6.35 +- 0.26 contra 7.13 +- 0.27, respectivamente, com P = 0.04).

Clinical Bottom Line: Portanto, de acordo com o artigo apresentado, o recebimento de orações praticadas por terceiros, não estando os pacientes cientes dessa prática, pode influenciar positivamente o curso de pacientes internados na ala de tratamento coronário do hospital. Os autores não elaboram sobre o mecanismo pelo qual isso aconteceria.

Comentários:

- A maneira de separar os pacientes nos dois grupos – considerando o número de cadastro dos mesmos no hospital e separando entre números pares e ímpares –, não é considerado exatamente como separação aleatória, pois pode não se dar completamente ao acaso.

- A escala utilizada no estudo para avaliar o curso clínico de cada paciente não foi validada cientificamente e não existe, atualmente, escala validada para tal fim.

- Há implicações éticas em realizar pesquisas científicas sem o consentimento e esclarecimento dos objetos a serem pesquisados, mesmo que acredite-se que as ações realizadas no estudo não comprometam o tratamento recebido na internação hospitalar.

- Os resultados obtidos não foram reproduzidos em outros artigos realizados a posteriori.

- É possível que os pacientes de ambos os grupos estivessem recebendo orações de seus familiares e amigos, independente de qual grupo ele pertença, de modo a “mascarar” os efeitos da reza praticada pelo grupo de orações.

Referência: Harris W., Gowda M., Kolb, J. et al. A Randomized, Controlled Trial of the Effects of Remote, Intercessory Prayer on Outcomes in Patients Admitted to the Coronary Care Unit. Arch Intern Med. 1999;159:2273-2278.

Outros artigos:

Byrd, RC. Positive Therapeutic effects of intercessory prayer in a coronary care unit population. South Med J. 1988; 81:826-829.

Benson H., Dusek JA. et al. Study of the Therapeutic Effects of Intercessory Prayer (STEP) in cardiac bypass patients: a multicenter randomized trial of uncertainty and certainty of receiving intercessory prayer. Am Heart J. 2006 Apr;151(4):934-42.

3 comentários:

  1. valeu pablo =)
    demorou mais ficou mt bom
    :D

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  2. Não acredito mt nesses resultados. Depois devemos olhar melhor isso. Falows

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  3. ibraim sempre duvidando =D

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